Milagre na Galileia - Capítulo 1 . Sarah
- Eduardo Araki
- Aug 2, 2023
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— Menina, levante-se – sussurrou Rebeca com um toque gentil em sua filha Sarah, que dormia profundamente em sua cama de palha ao lado da parede de pedras do seu quarto.
Sarah tinha o costume de passar as noites de verão observando as estrelas cadentes no céu, mas o que preocupava sua mãe eram as lamparinas queimando inutilmente o óleo durante a madrugada.
— Menina, levante-se — insistiu a mãe. — Hoje é dia do seu noivado. Não vá perder este, como aconteceu com o outro.
Rebeca abriu a cortina da janela, permitindo que uma brisa refrescasse o quarto e penteou os cabelos da filha com as mãos. Doze anos se passaram desde que Sarah nasceu, e agora ela estava prestes a deixar a infância e entrar na vida adulta, segundo os costumes de seu povo.
Uma criança era uma benção para a família, principalmente depois de muito tempo de espera e de muitas orações. Suas irmãs já não disfarçavam os comentários maledicentes e seu esposo entrava cabisbaixo na sinagoga.
Uma família sem filhos era quase uma maldição para o povo judeu. Rebeca dizia a todos que queria uma casa cheia de crianças, mas Deus proveu uma única filha.
O coração de Rebeca estava repleto de emoções conflitantes. Ela se sentia feliz por sua filha estar se tornando uma mulher, mas também sentia o coração apertado por perceber que Sarah já não era mais a criança inocente que costumava ser.
Os anos voaram tão rapidamente quanto as estrelas cadentes que Sarah observava no céu. Mas, mesmo com todo o sentimento conflituoso, Rebeca desejava que seu futuro fosse brilhante e cheio de possibilidades, como as estrelas que sua filhinha tanto amava.
Sarah abriu os olhos dormentes e espreguiçou os braços sobre a coberta tal qual uma aranha tentando se agarrar à teia.
— Eu não perdi nenhum noivado – Sarah podia dar respostas curtas e firmes, o que deixava sua mãe exasperada.
— Se seu pai não te mimasse tanto, poderia ter se casado com o filho daquele mercador de Caná. Dizem que a festa de casamento do filho dele foi maravilhosa e que ele serviu uma grande quantidade de vinho bom. Um vinho tão bom que só pode ter sido trazido de Roma.
Mercador? Criador de cabras, isso sim, pensou Sarah. O pretendente de Caná passava o dia entre as cabras e a noite dormindo com elas. Às vezes levava o rebanho para pastar nas pradarias e só voltava depois de alguns dias. Quando foram apresentados ele a presenteou com um queijo de cabra. Logo para Sarah que não gostava de queijos, e nem de cabras.
Quando estavam próximos ela podia sentir o fedor nauseabundo dos animais impregnado em suas roupas, em seu cabelo e até no seu sorriso sonso. Sarah se sentiu aliviada quando se mudaram para bem longe de Caná.
— Meu pai foi mandado aqui para Cafarnaum e eu não tenho culpa dele ter me trazido junto — respondeu Sarah. — E não vou me casar somente pelo vinho da festa.
— Seu pai faz todas as suas vontades, vai acabar te estragando — disse Rebeca meneando a cabeça.
Quando seu esposo chegava em casa jogava a pequena Sarah no ar para ouvir sua risada alegre encher a casa. “É a minha princesa!” dizia ele fazendo um trocadilho com o nome de Sarah que significa princesa em hebraico. Rodopiavam pela sala, a filha no ar de braços abertos parecendo voar.
"Não discuta com sua mãe", ecoou a Voz na mente de Sarah. Desde a infância, a Voz a guiava e protegia. Era como um anjo da guarda invisível, um sussurro que a mantinha segura. Sarah nunca soube de onde vinha essa voz, nem porque ela a escolheu para ser sua confidente, mas a obedecia sem hesitação.
A Voz parecia sempre saber o que era melhor para Sarah, mesmo quando ela própria não fazia ideia do perigo que a aguardava, como no dia em que a Voz a alertou para não ir nadar no açude com as outras crianças. E ela obedeceu, mesmo sentindo-se excluída e solitária. “Você não vem, Sarah?” chamava a criançada que corria pela pradaria. Mas, tragicamente, um touro bravo fugiu do curral, avançou sobre as crianças, pisoteando e matando um menino e deixando todos aterrorizados.
Sarah nunca conseguiu explicar como a Voz sabia dessas coisas, mas ela sabia que precisava confiar nela. Era como uma amiga invisível, a única que a compreendia em momentos de solidão e incerteza. Mesmo que não pudesse vê-la, Sarah sabia que a Voz estava sempre lá, a guiando e a protegendo, como um anjo da guarda que a acompanhava em todos os momentos da vida.
— Vamos ter tâmaras com mel? — Sarah mudou de assunto.
— Sim, o pote está cheio.
— Mas aquelas são tâmaras frescas. Eu gosto de tâmaras secas, sem semente.
— Preciso da sua ajuda com os preparativos. Quero que você vá ao mercado mais tarde — respondeu Rebeca apontando para o vaso de mel e o de azeite vazios. — Traga mel e azeite. E pode trazer tâmaras secas, sem semente, se quiser.
A sua família estava passando por profundas mudanças e as transformações foram rápidas. Na Páscoa do ano passado quando foram para Jerusalém seu pai recebeu a notícia da sua transferência saindo da sinagoga de Caná, onde não passava de um reles porteiro, para a sinagoga de Cafarnaum, onde recebeu a função de hazzan, um assistente do rabino.
Suas novas funções incluíam dar aulas para os meninos, retirar do baú os rolos que deveriam ser lidos e guardá-los após a leitura, assim como realizar os funerais e preparar os banquetes. Um cargo importante, sem dúvida.
Graças à promoção do seu pai, a família pôde se mudar para uma casa maior e, inclusive, ter servos. Suas tias não fazem mais comentários irônicos agora, dizia sua mãe levantando os cantos da boca.
A casa era construída com paredes de pedra com um teto de madeira rústica. Ao contrário das casas dos camponeses, que tinham chão de terra batida, a casa de Sarah possuía um piso de ladrilhos de cerâmica ocre, que formavam desenhos geométricos separando os cômodos.
Um leve aroma do azeite queimado nas lamparinas perfumava o ar. Era uma fragrância familiar que a menina conhecia desde a infância, já que era responsável por abastecer as lamparinas e garantir que não faltasse o óleo combustível para iluminar a casa.
Sarah levantou-se da cama e foi até as lamparinas, apagando-as para não desperdiçar o precioso óleo. O silêncio da casa era quebrado apenas pelo som de seus passos suaves no piso frio. Era um lugar aconchegante, que lembrava a infância e a segurança do lar.
Sarah saiu para o quintal e inspirou o ar frio da manhã. O céu estava dando mostras da mudança e uma mancha clara apontava no horizonte contrastando com as nuvens escurecidas.
Com agilidade subiu pela escada junto à parede externa para chegar ao telhado plano sobre a casa. Se deitou sobre o estrado de madeira e admirou o céu degradê onde as estrelas iam sendo lentamente engolidas pela chegada do dia. Já era claro demais para encontrar estrelas cadentes, seu passatempo preferido.
Cafarnaum, localizada às margens do Mar da Galileia, possuía uma vista privilegiada para o nascer do sol, que surgia majestoso do outro lado do lago. As casas, dispostas em cascata por conta do relevo inclinado, ofereciam uma visão deslumbrante da paisagem, principalmente da casa de Sarah que ficava um pouco afastada na parte alta da cidade.
Sarah sentou-se com as pernas cruzadas, em posição de contemplação, na varanda improvisada. De onde estava, podia ver o movimento no porto, onde os pescadores atracavam seus barcos após a pescaria noturna.
As habitações humildes ao redor do ancoradouro eram construídas muito próximas umas das outras, algumas com passarelas ligando os tetos planos, criando uma espécie de "rua de telhados". Para desespero dos seus moradores, correr por cima das casas se tornou a brincadeira favorita de alguns moleques arteiros.
As residências, em geral, possuíam apenas um ou dois cômodos e o povo judeu costumava realizar a maioria das atividades no quintal.
Muitas famílias armavam tendas sobre os telhados planos para aproveitar a vista e o clima agradável, enquanto outras construíam um cômodo extra. Nas noites quentes de verão, era comum realizar as refeições ao ar livre, apreciando a vista panorâmica e as estrelas cintilantes no céu noturno.
Acostumada com essa rotina, Sarah admirava a órbita circular das estrelas na abóboda celeste, enquanto sentia a brisa fresca do mar. A cena era tão bela que, muitas vezes, adormecia sob o piscar das estrelas, envolvida pelo perfume da natureza e pela serenidade da noite.
Sarah olhou em outra direção e viu sua amiga, Ana, acenando de cima do teto da casa no final da rua. O seu pai plantava oliveiras e produzia um azeite apreciado até mesmo em Damasco. Muitas vezes, quando tinha preguiça de ir até o mercado, Sarah ia até sua casa emprestar azeite.
Num destes dias Sarah esticou os pés para vasculhar dentro de um vaso de azeite que tinha quase a sua altura “Hummm... gosto deste azeite com pão e peixe assado” disse.
“Se você tivesse que ajudar na colheita não iria achar tão bom assim” lamentou Ana, “Meu irmão me faz recolher as azeitonas que caem debaixo das oliveiras. Só porque eu sou baixinha, mas pelo menos não tenho que ajudar na prensa de azeite, isso sim é trabalho pesado!”
“Tome cuidado, quando você crescer ele vai te colocar na prensa” avisou Sarah. Ana arregalou os olhos com uma expressão de terror percorrendo seu rosto pálido.
“É brincadeira, não é Sarah?” choramingou Ana apertando as mãos. “Eu vou te ajudar na prensa, fique tranquila” respondeu Sarah virando o rosto para o outro lado tentando disfarçar um riso. Mas Ana ficou em silêncio encarando as costas de Sarah.
“Há! Te peguei. É claro que ele não vai te colocar na prensa, Ana. É para isso que você tem um irmão mais velho. Ele serve para alguma coisa afinal”. As amigas se entreolharam por um segundo e desataram a rir.
Agora, fitando sua amiga de cima do telhado, Sarah acenou de volta para Ana fazendo sinal para vir a seu encontro.
Rapidamente Ana desceu do telhado e correu em direção à casa de Sarah, subindo as escadas pulando os degraus de dois em dois.
— Shalom! É hoje o grande dia! — disse Ana sem fôlego.
— Não fale alto, minha mãe está aí embaixo — Sarah colocou um dedo sobre os lábios.
— E você já contou para ela? — Ana cobriu a boca com a mão para abafar a voz.
Uma brisa cortou o ar e Sarah se arrepiou, desviou o olhar e fitou o horizonte franzindo a testa.
Não havia contado nada a seus pais. Faltava-lhe a coragem, o momento certo, e mais um bocado de ousadia.
— Não acredito! Sua mãe ainda não sabe que vocês pretendem se mudar para Jerusalém depois do casamento? — perguntou Ana cruzando os braços.
Sarah colocou a cabeça entre as mãos. Sim, iria falar com seus pais, mas só quando chegasse a hora certa.
Naquela época o costume era ficarem noivos com um grande banquete em que os pais iriam discutir o dote a ser pago para o pai da noiva assim como determinar o dote que a noiva levaria. Somente depois de um ano é que se casariam de fato e iriam morar juntos.
— Ainda não é a hora, Ana — falou Sarah simulando desinteresse. — Ainda terei um ano para contar.
— Yahweh amado! Onde você está com a cabeça, Sarah?
Sarah estava com o pensamento vagando em outro lugar. Desde que fora passar a última Páscoa com seus pais em Jerusalém ficou encantada com a Cidade Santa, o vai e vem de pessoas, os palácios e, claro, com o imponente templo.
Era lá que tudo acontecia e o templo era a habitação de Deus. Para Sarah, Jerusalém representava o centro do mundo, queria estar próximo de Deus e da sua presença.
Preciso estar lá, pensou Sarah. Não quero passar o resto da vida em Cafarnaum.
Conhecer Benjamin foi um presente dos céus. Ele era mais alto que a média dos garotos da sua idade e, além disso ainda compartilhava da sua vontade de ir viver na Cidade Santa. Era o companheiro perfeito, apesar de presunçoso e um pouco rebelde.
— E Benjamin, ele já contou para os pais dele?
— Eu pedi para ele esperar eu contar primeiro. Para a família dele não será um problema, pois são comerciantes e vão gostar de ter um comércio com Jerusalém.
— E qual o problema para você, Sarah? Por que não conta logo para seus pais?
— Eu sou filha única, meu pai acabou de vir para a sinagoga de Cafarnaum, a família deve ficar unida, meu pai não vai aprovar, e se eles disserem não? — Sarah respondeu com a voz embargada.
— A filha do ferreiro se casou e foi para Genesaré, lembra? — observou Ana.
Sarah apertou os olhos e pensou por um instante.
— Eles são gentios, e além disso, Genesaré não fica nem a meio dia de caminhada. Não vale como comparação — lamentou Sarah.
— Para você não ser filha única eu te daria meu irmão mais velho, Jonas, se pudesse, e nem ia sentir falta. — disse Ana. — Irmãos mais velhos não servem para nada. Se você tem, eles só atrapalham, e se não tem atrapalham do mesmo jeito.
Sarah esboçou um sorriso e apertou o braço da sua amiga — Não diga isso de Jonas, ele é uma boa pessoa.
— Bom, ainda bem que você não ficou noiva de Obede, o filho do oleiro.
— Meu Deus, Ana! De onde você tirou essa ideia? Aquele rapaz vive com barro até nos cabelos trabalhando na olaria do pai.
— É que Samantha, a mãe de Obede, anda conversando com todo mundo procurando uma noiva para o filho dela.
— E ela não foi conversar com sua mãe?
— Nunca, elas não se suportam — Ana juntou as palmas das mãos. — Graças a Deus!
— Por que não?
— É uma longa história. Mas podemos dizer que meu pai foi a causa deste ódio todo.
Sarah se arrastou para perto de Ana — Ah, seu pai? O que aconteceu?
— Samantha foi prometida em casamento para meu pai. As famílias já estavam conversando e meu avô Ezra já estava separando o dote.
— Sério? E depois?
— Um dia, meu pai foi ao mercado comprar uns tapetes para a nova casa. E lá ele encontrou um mercador que estava com a família. Ele trazia especiarias do Egito. E ele tinha uma filha.
— Sua mãe?
— Isso mesmo. Meu pai comprou metade do carregamento para impressionar minha mãe! — disse Ana em meio a risadas.
— Não acredito!
— Foi um grande escândalo para desmarcar o casamento. Minha avó Marta, que descansa no Senhor, quase morreu de vergonha. Por isso Samantha não vai com a minha cara. E nem com a sua.
— Comigo? Por quê?
— Porque somos amigas, oras. Você seria amiga da filha que ela não teve.
Sarah ficou pensativa. — Hum. Isso explica muita coisa. Samantha não cumprimenta minha mãe na sinagoga, mas seu pai é bem gentil.
— E você sabe como Samantha é fofoqueira. A sua má fama já se espalhou por toda a Galileia. Quem quer ter uma sogra assim? — disse Ana levantando as sobrancelhas.
As amigas riram e se abraçaram.
— Pelo menos você tem o pequeno Isaac. Que idade ele tem? — Sarah perguntou sobre o irmão caçula de Ana.
— Pergunte você mesma para ele — Ana apontou para o irmãozinho que vinha subindo as escadas.
— Ana, mamãe está te procurando — Isaac subiu o último degrau indeciso e claudicante, e se jogou nos braços da irmã.
— Olá Isaac, bom dia. Venha me dar um abraço — Sarah puxou o menino pela túnica e passou as mãos pelos cachos dos seus cabelos revoltosos. — Quando é o seu aniversário? Já fez nove anos?
O menino tentava se desvencilhar do abraço de Sarah — Só no ano que vem. Ana, vamos voltar para casa, mamãe tá chamando.
— Por que você quer ir embora tão cedo, Isaac? Não ficou nem um pouco comigo — protestou Sarah.
— Estou com fome! E só posso comer quando a Ana voltar comigo! — ralhou o menino zangado.
As meninas riram do pequeno Isaac que se remexia no colo de Sarah.
— Se você ficar aqui comigo eu preparo um prato de lentilhas, que tal? — disse Sarah.
— Oba, lentilhas! — Isaac deu sorriso. — Lentilhas com aveia?
— Se você quiser aveia, com aveia será, então.
O menino se jogou nos braços de Sarah dando um abraço apertado. — Ana, é para você voltar para casa. Avisa a mamãe que eu vou ficar aqui com a Sarah comendo lentilhas.
Ana abriu uma expressão de surpresa e colocou as duas mãos na cintura fingindo indignação — O quê? Você vai me deixar ir embora sozinha? — E esticou as mãos para agarrar o irmãozinho que ria da irmã.
— Pequeno Isaac, eu tenho um presente para você — Sarah entregou um pequeno cavalo entalhado num pedaço de madeira.
Isaac arregalou os olhos e agarrou o presente enquanto ria com o cavalinho nas mãos. — Que cavalo é esse?
— Hum... É... É o cavalo do rei Davi! — Sarah disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça.
— Oba! O cavalo do rei Davi!
— O que você tem que dizer para a Sarah? — perguntou Ana encarando o irmãozinho.
Isaac abriu os braços. — Obrigado! — e abraçou Sarah com força.
— Cuide bem desse cavalinho. O rei Davi venceu muitas batalhas montado no seu cavalo — disse Sarah.
Então ouviram a mãe de Ana chamando ao longe — Sarah, Isaac! Venham!
— É melhor eu ir embora, Sarah. Depois conversamos mais. Venha Isaac, seu comilão!
— Não sou comilão! — respondeu Isaac dando um abraço de despedida em Sarah e partindo com a irmã.
Sarah se virou para o mar e abraçou os joelhos. Observou o movimento da cidade em torno do seu porto às margens do Mar da Galileia que, por ser atravessado pelo Rio Jordão, era rota de comércio de barcos que chegavam de outras regiões transportando mercadorias, e assim Cafarnaum se tornou um conhecido centro regional.
Dali, diariamente, exceto aos sábados devido à lei, partiam e chegavam as caravanas de mercadores que percorriam as trilhas como formigas no solo irrigado do vale do Jordão.
Um destes mercadores era Ezequiel, pai de seu noivo, Benjamin, que comercializava peles. Moravam ao norte de Cafarnaum, a cerca de meia hora de distância. Lá tinham um entreposto onde coletavam o couro curtido pelos curtumes locais que, por lidarem com animais mortos, eram considerados impuros e tinham que ficar afastados da cidade.
Sarah ficou pensativa. Onde estará Benjamin agora?










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